Arquitetura funerária da Grécia Clássica à Revolução Industrial

Trabalho escrito por: Andressa da Conceição Rocha e Juliana Peixoto Brandão Bravo

1 A arquitetura funerária na Grécia e Roma Antiga

Na sociedade e cultura gregas, a morte é vista como ritual de passagem que completa o ciclo da vida: nascimento, puberdade e casamento. Destaca-se a importância dos rituais funerários, os quais revelam a atitude da sociedade diante da morte, suas crenças a respeito do depois da morte e sua atitude diante da vida, confirmando as regras do comportamento social.

Os mortos eram os dissecados, em qualquer circunstância. Isso justifica o temor que Geras, a Velhice, provocava. Triste divindade, filha de Nix e do Érebo, vivia no Hades, mais exatamente no chamado Bosque de Perséfone, território preambular do inferno grego. Geras era representada sob a figura de uma mulher muito velha, coberta com uma túnica negra. Na mão direita levava uma taça, na esquerda um bastão, no qual se apoiava. Sempre ao seu lado, uma clepsidra, quase esgotada. Em outras vezes era alegorizada simplesmente por um rosto de mulher velha ou por bastões, cajados.

A morte chamava-se Thanatos, que invariavelmente aparecia ligado ao seu irmão gêmeo, Hipnos, deus do sono, ambos filhos de Nix, a Noite, e irmãos de Geras. É da relação entre Thanatos e Hipnos que nasce a palavra grega “koimeterion”, dormitório, lugar em que os mortos dormem. A função de Thanatos não era propriamente matar, mas receber o que morria, acolhê-lo. Muitas vezes, Thanatos passava por um libertador, sendo até desejado quando libertava os vivos dos grandes tormentos que os afligiam. Ademais, Thanatos simbolizava não apenas o aspecto perecível da vida, a impermanência da existência, como a revelação de algo que viria a seguir. Não significava propriamente algo monstruoso, horrível, mas possibilitava o acesso, através dos adequados ritos funerários, a novas formas de existência que lembravam ideias de recomeço ou de evolução.

Os gregos eram politeístas e seus venerados deuses possuíam temperamento e humor similares aos dos humanos. Segundo Geertz, a religião ajusta as ações humanas a uma ordem cósmica imaginada e projeta imagens da ordem cósmica no plano da experiência humana.

“Como vamos lidar com o significado, comecemos com um paradigma: ou seja, que os         símbolos sagrados funcionam para sintetizar o ethos de um povo – o tom, o caráter e a qualidade da sua vida, seu estilo e disposições morais e estéticas – e sua visão de mundo – o quadro que fazem do que são as coisas na sua simples atualidade, suas ideias mais abrangentes sobre ordem. Na crença e na prática religiosa, o ethos de um grupo torna-se intelectualmente razoável porque demonstra representar um tipo de vida idealmente adaptado ao estado de coisas atual que a visão de mundo descreve, enquanto essa visão de mundo torna-se emocionalmente convincente por ser apresentada como uma imagem de um estado de coisas verdadeiro, especialmente bem-arrumado para acomodar tal tipo de vida.” (Geertz; 1989, p.67)

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Necrópole de KerameiKós na região de Atenas

Na antiguidade Greco-romana, os mortos eram os primeiros a “recepcionar” os viajantes: a primeira coisa que saudava o viajante que se aproximava de uma cidade grega ou romana era a fila de sepulturas e lápides que ladeavam as suas estradas. Com os gregos e os romanos surgirão muitos dos costumes que perduram atualmente, como a transcrição de inscrições nas lápides tumulares e a colocação de flores sobre os túmulos. Derivada desses costumes, a memória do morto passou a ser preservada e cultuada, assumindo diversas feições ao longo dos tempos. As informações mortuárias representam a corporificação do comportamento social, econômico, tecnológico e religioso e reflete sentimentos e valores da sociedade (Humphreys, 1980, p. 79).

A morte entre os antigos gregos constituiu momentos de dor e desespero, segundo as fontes documentais, mostrando a grande preocupação com o destino dos mortos e com seu sepultamento e, ao mesmo tempo, com a execução dos ritos funerários, que demonstravam publicamente a importância do morto e da família à comunidade.

Encontra-se em Fustel de Coulanges a constatação da importância da sepultura, uma vez que as almas daqueles cujos corpos não fossem enterrados estariam condenadas a padecer de diversos sofrimentos e a errar constantemente sobre a terra, assombrando os vivos e prejudicando suas plantações e colheitas. Por certo que as cerimonias fúnebres não se destinavam a amenizar a dor dos vivos, mas a apaziguar as almas dos mortos e a tornar seus espíritos felizes e propícios (COULANGES, 2000: 10).

A localização das sepulturas variava, estando dentro ou fora dos muros da cidade, mas nunca tão longe que impedissem os rituais de passagem. O ritual funerário ou enterramento dos mortos realizava-se em fases, caracterizando os ritos de passagem: separação do indivíduo do grupo (morte), transição para o outro mundo (velório), acomodação no mundo subterrâneo.

Enfatiza-se a preocupação com a exposição do morto, com a sua deposição na tumba, com a descida aos infernos, com o culto após a morte e os conceitos vigentes sobre o mundo dos mortos, analisados, segundo as fontes textuais e arqueológicas, em busca da apreensão dos significados dos rituais funerários na sociedade grega.

De acordo com Eduardo Rezende, a palavra cemitério origina-se do grego Koumetèrion, “que se referia ao local onde se dormia. Essa apropriação do termo ocorreu [muito tempo depois] pela Igreja Católica […] onde os cristãos eram enterrados nos campos santos onde esperavam a ressurreição enquanto dormiam em sono profundo.” (REZENDE, 2007, p.12)

A arquitetura grega voltava-se principalmente para os templos destinados aos diversos deuses cultuados. Havia uma grande ligação religiosa com estes em virtude do grande número de mortes em guerras, naufrágios, terremotos, partos e doenças.

“Eles esperavam que a religião lhe fosse útil. Teria esperança de que suas orações e   vigílias tornassem sua vida melhor naquele momento, e não no céu, depois da morte. De uma forma mágica, participar de cerimônias lhe dava poder. Fazendo as oferendas certas, eles obrigavam os deuses ou os espíritos misteriosos que viviam em lugares sagrados a ajudá-lo” (MACDONALD, 1996, p.35).

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Ruínas do Mausoléu de Halicarnasso

Dentre os túmulos gregos, destaca-se o mausoléu de Halicarnasso. Construído no século IV a.C. nas praias do mar Egeu, em Halicarnasso, atual Bodrum, Turquia. Idealizado “pela rainha Artemísia em honra de seu marido, o rei Mausolo, e construído pelos renomados arquitetos gregos Satyros e Pythios e o escultor Scopas” (RODRIGUES, 1977, p.82). Este túmulo originou a palavra mausoléu, utilizada até hoje na denominação de qualquer grande túmulo; e, por sua monumentalidade, foi considerado umas das sete maravilhas do mundo antigo.

Construído “sobre uma grande base de 125m de perímetro e 50m de altura, o mausoléu organiza-se como um grande templo jônico períptero, rematado em forma de pirâmide escalonada coroada por uma quadriga” (ANTÓN et al, 1995, p.61). Em 1402, segundo Rodrigues (1977), o território foi invadido pelos cavaleiros de São João e o mausoléu foi destruído. Entretanto, alguns historiadores afirmam que o túmulo foi destruído em consequência de um terremoto entre os séculos XI e XV.

Na antiguidade romana, os ritos fúnebres apareciam como um momento privilegiado no qual a família e a própria cidade ostentavam sua glória, riqueza ou, num sentido inverso, exprimiam sua inquietação e fragilidade. Provida de reconhecimento social, a ‘teatralização’ cujo protagonista era o morto marcava no imaginário antigo o encerramento de um ‘ciclo vital’, assinalado por etapas de transição tais como a puberdade, o ingresso na vida pública e o casamento (FLORENZANO, 1996).

Segundo Donald Kylie,

” a interdição da sepultura e a negação dos cuidados dispensados ao morto aparecem na documentação historiográfica, como uma forma de punição para além da morte. O destino dos condenados na arena, das vítimas das proscrições, inimigos infames (que voluntariamente se deixaram aprisionar em batalha) e escravos sublevados não era o mesmo daqueles agraciados com a ‘morte natural’ ou ‘valorosa’. Tais ações classificadas como ímpias, tratando-se de ‘cidadãos íntegros’, eram aceitáveis no caso de criminosos cujas ações os situavam para além da proteção da lei. Nem mesmo era permitido lamenta-los. Cumpria esclarecer aos espectadores que só´ morreriam traidores e prisioneiros de guerra” (KYLE, 1998: 14).

Portanto, um dos costumes romanos era a incineração, que tinha “a função de salvar a alma e também de evitar a destruição do corpo pelos oponentes, que na sede de vingança de seus antepassados costumavam profanar as sepulturas” (REZENDE, 2007, p. 13). As cinzas eram recolhidas em urnas funerárias e colocadas dentro de columbários, que eram “construções em cujos muros se abriam para tal fim fórnices ou nicho” (ANTÓN et al, 1995, p.73).

Devido ao fato de existirem muitas guerras, alguns romanos cremavam os corpos dos falecidos. Tal prática ficou conhecida como corpos assados. “Esse processo era semelhante à política da terra assada, usada em guerras modernas, onde tudo era destruir para o inimigo não utilizar” (REZENDE, 2007, p.13).

A interpretação do complexo simbólico e figurativo da morte na cultura romana, seu relacionamento com os mortos e o culto aos ancestrais ajuda a esclarecer um pouco melhor os próprios viventes, no sentido de possibilitar um novo olhar sobre as engrenagens sociais e dispositivos de poder ali operantes. Ate´ na morte o universo romano não dispensa a liturgia e a hierarquia.

No que concerne aos funerais públicos, todo o esforço empreendido, a atenção voltada ao cerimonial, o cuidado com os signos de distinção do falecido e a assistência prestada ao culto mortuário buscam esconjurar o fantasma do absurdo, intrínseco à ideia de aniquilação completa.

2 Os estilos europeus derivados do classicismo greco-romano e a influência cristã na forma arquitetônica dos túmulos

Durante a Idade Média, passando pela arquitetura paleocristã, bizantina e gótica, os ideais clássicos nunca chegaram a dissipar-se por completo, graças a algumas ordens capazes de sistematizar e difundir as grandes obras da antiguidade. No entanto, a Cristandade passou a delimitar um novo cenário de mundo, que além de subordinar o alvitre humano aos planos divinos, almejava que o indivíduo buscasse a Deus.

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Catacumba de Santa Priscila

Até acontecer o Édito de Milão (declaração de liberdade de culto pelo imperador Constantino I), a arte cristã não possuía um caráter arquitetônico próprio e celebrava seus ritos em lugares pouco relevantes. Os mártires da religião, até então proibida, eram sepultados em catacumbas – longas galerias labirínticas que ficavam no subterrâneo das estradas, fora da cidade de Roma, dentro dela eram proibidas por lei –  diferentemente dos demais, que eram sepultados em fossas profundas. Isso porque escondidos ali corriam menor perigo de terem seus corpos profanados. Tempos depois as catacumbas tornaram-se centros de peregrinação, fazendo com que os cristãos comuns manifestassem o desejo de serem sepultados próximo aos restos dos mártires após a morte.

Conquistada a legitimidade religiosa, a arte que antes era reprimida passa a ser utilizada e exposta nas construções como os mausoléus e as basílicas cristãs. Nos túmulos dos fiéis mais abastados podem ser encontradas decorações com relevos, arte perpetuada até meados do século VII.

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Relevos na Catacumba de Domitila

Nesse período, o clero passou, então, a regular a vida religiosa dos fiéis desde o nascimento até suas mortes, interferindo também nos costumes fúnebres. A morte deixa de ser reverenciada apenas em caráter familiar para tornar-se pública e administrada pela Igreja.

Acreditava-se também na ressurreição, havendo anteposição em enterrar os mortos em vez de cremá-los. Surgem assim os cemitérios semelhantes aos que conhece-se hoje, ao passo que os mortos cumulavam as igrejas e suas adjacências. Esses cemitérios, públicos, são aqueles cujas formas e disposição podem ser encontradas até os dias atuais.

De maneira que reuniões próximas ao túmulo de um mártir não eram permitidas, sobrevieram pequenas capelas memoriais, exteriores, que indicavam que abaixo delas existiam tumbas importantes, originando os templos funerários.

Estes templos ou basílicas eram constituídos, em geral, de uma câmara retangular ou cruciforme e sempre baixa, onde localizavam-se as tumbas veneradas, e uma segunda câmara retangular de onde se tinha acesso ao exterior e ao altar.

Por insuficiência técnica, em um primeiro momento toda a concepção do espaço arquitetônico dos santuários cristãos era voltada ao centro, segundamente a planta em forma de cruz sugere o percurso no interior do espaço. Mais tarde, com a progressão do gótico, os céus querem ser alcançados pela verticalidade monumental, leveza e delicadeza que atraiam a perspectiva para o alto.

2.1 O Gótico

Neste momento, os ritos fúnebres começam a agregar significação social. As capelas funerárias, os jazigos e outros feitos ganham amplitude e dignidade de monumentos. O paradeiro dos mortos era diversificado, podendo ser sepultados a exemplo dos sepulcros dos santos em capelas funerárias ou, no caso de reis e rainhas, em panteões, monumentos fúnebres semelhantes aos monumentos públicos.

Em algumas tumbas, estátuas do morto eram colocadas sobre os sarcófagos, em posição deitada ou não, vestida com roupas que o falecido usava quando vivo. Em sua maioria, esses túmulos apresentavam uma sobrecarga de elementos decorativos.

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Tumbas Scaligeri

 Havia também os campos-santos, cemitérios localizados quase sempre no centro dos feudos. Muito movimentados, eram lugar de reuniões sociais, religiosas, comerciais, políticas e até de entretenimento ou moradia fixa ou temporária. O costume de frequentar os cemitérios durou até o fim da Idade média, quando a Igreja passa a preservar os túmulos, ressaltando a necessidade de separar o espaço sagrado do profano.

2.2 O Renascimento

Com o fim da Idade Média, os alicerces do poder europeu modificam-se drasticamente. Ainda que muito influente, a Igreja Católica volta a ser subjugada pelo poder secular, principalmente em virtude das crises geradas pela Reforma Protestante.

Aqueles que gozavam de situação financeira privilegiada, como alguns comerciantes, investiam seu dinheiro em arte e, a fim de ostentar algum poder, patrocinavam a produção de peças artísticas. Estes generosos comerciantes empenharam-se em resgatar a cultura clássica e, nas palavras de Martins Calabria (1997, p.92), “fazer ‘renascer’ (daí o nome renascimento) o esplêndido legado deixado pelos gregos e romanos à humanidade”.

São então redescobertos antigos tratados arquitetônicos romanos, os quais passaram a inspirar fundamentalmente a nova arquitetura. A liberdade de pesquisa, ainda que relativa, permite que algum avanço seja feito nas técnicas construtivas, concedendo a possibilidade de novas experimentações na concepção dos espaços.

Florença tornou-se uma grande potência e ali que se propagaram as condições para o desenvolvimento das ciências e das artes. O classicismo ressurge em conjunto com o humanismo como guia para a atual visão de mundo que evidenciava-se nos artistas da época.

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Interior da Capela dos Médici

“A arquitetura renascentista mostrou-se clássica, mas não se pretendeu neoclássica” (Em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_arquitetura&gt;. Acesso em: 18 de novembro de 2014.). A recuperação dos tratados romanos incompletos criou espaço para uma nova interpretação daquelas ordens e suas aplicações para os contextos de então. Conhecimentos adquiridos durante a era medieval foram aplicados de forma a incorporar os elementos da linguagem clássica. O principal meio de projeção passou a ser o desenho e a perspectiva uma nova maneira de compreender o espaço como bem universal. Surge também a figura do arquiteto solitário (diferente da concepção coletiva dos edifícios medievais).

Neste momento, como não havia pretensão de ater-se à utilidade de tais construções, os túmulos eram um campo oportuno e irrestrito para a criação dos artistas da época, que recebiam bem para produzir suas obras, tanto de compradores particulares, como do clero. As esculturas, que apresentavam formas perfeitas em composição de beleza ornamental, eram muito utilizadas para decorar jazigos de pessoas importantes, sendo elas as manifestações artísticas fundamentais da arquitetura funerária de então. Logo coroas, cupidos, rolos de pergaminho, figurações humanas e outros elementos foram incorporados na decoração dos túmulos.

Michelangelo era afamado em meio aos artistas da época por sua magnífica habilidade e devoção ao entalhe da pedra. Elaborou obras muito conhecidas, como as esculturas para o túmulo do Papa Júlio II, localizado na Igreja de San Pedro in Vicoli – Roma, e foi responsável pela execução dos túmulos de Giuliano de Médici e Lorenzo de Médici, na Capela dos Médici, que fica em Florença, na parte interna da Basílica de São Lourenço.

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Túmulo de Henrique VII e Margaret Richmond

Responsável pelas tumbas de Henrique VII e sua esposa Margaret de Richmond, Torrigiano também destacava-se entre os escultores que faziam arte funerária. Na Abadia de Westminster, em Londres, Inglaterra, os túmulos citados são adornados por deslumbrantes estátuas douradas de bronze.

Um ponto interessante a destacar-se é que, a partir do renascimento, o Panteão de Agripa, edifício clássico construído em 27 a. C. para ser templo de culto de diversos deuses – ícone daquele período e que até os dias de hoje é reverenciado e copiado exaustivamente – mudou seu uso, passando a ser utilizado como túmulo para italianos poderosos daquele tempo, como o pintor Rafael Sanzio, considerado um dos grandes do Renascimento.

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Panteão de Agripa

 2.3 O Barroco

O cenário artístico europeu estreia o Barroco, no século XVII, em duas circunstâncias bastante evidentes. Com o avanço das ciências encabeçado pelo Renascimento, chegava-se a conclusão de que o clássico não oferecia condições de solucionar todas as questões levantadas pelo homem. O universo estava mudado, o mundo se expandia e o indivíduo buscava experimentar um contato diferente com o divino. A maneira barroca, luxuriante, foi a resposta a essa alteração.

Além disso, à medida que as igrejas protestantes avançavam e a ordem cristã romana perdia espaço para novas ideias e atitudes perante o Sagrado, para não perder mais fiéis a Igreja necessitava renovar-se. A promoção de uma estética era a oportunidade de colocar-se nesse novo mundo. As formas barrocas foram difundidas por todo o mundo, inclusive no Brasil, e essa promoção levou o estilo a ser reconhecido com católico por excelência.

“Arquitetos, escultores e pintores foram convocados para transformas as igrejas em verdadeiras exibições artísticas, cujo esplendor tinha o propósito de converter ao catolicismo todas as pessoas” (CALABRIA; MARTINS, 1997, p.116).

Essa nova expressão da arte retratava temas do cotidiano, mitológicos e religiosos. As personagens retratadas e esculpidas apresentam movimentos mais dinâmicos e expressões um tanto dramáticas, de sofrimento ou gozo. As esculturas tinham a função, em enlace com a arquitetura, de emocionar e envolver quem as admirava e por isso eram levadas às tumbas dos poderosos.

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Baldaquino de Bernini

Gian Lorenzo de Bernini, arquiteto, escultor e pintor, notabiliza-se na arte tumularia, sendo patronado pelo Papa Urbano VIII. Uma das obras que fez para este foi o baldaquim – espécie de pálio ou dossel – sobre a tumba de São Pedro, na Basílica de São Pedro, em Roma. O túmulo do próprio Papa Urbano VIII foi realizado por Bernini, próximo ao altar da mesma basílica. Mármore preto e bronze dourado foram utilizados para o sarcófago e, nas figuras alegóricas, mármore branco. A intenção era dar majestade à figura humana com o uso de materiais igualmente majestosos.

O ouro descoberto no Brasil em 1681 dá à Portugal a autonomia para avançar largamente no estilo barroco, que posteriormente é aproveitado também na colônia, especialmente por Aleijadinho, estimado arquiteto e artista brasileiro.

 2.4 O Neoclássico

Ao fim do século XVIII e começo do século XIX, com o amplo avanço tecnológico europeu, na iminência efervescente da Revolução Industrial e do Iluminismo, novas alternativas estruturais e construtivas foram descobertas. Pedra e madeira, materiais antigos, abriram gradativamente lugar para o metal fundido e o concreto.

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Capitólio de Washington, exemplo de arquitetura neoclássica

Simultaneamente e agudamente impressionados por esse âmbito cultural iluminista, os arquitetos davam-se a rejeitar a religiosidade exagerada da estética anterior. Almejava-se uma forma e espaço mais sintéticos, ainda que não se soubesse claramente como utilizar as novas tecnologias para este fim. Acompanhando as correntes artísticas neoclássicas, aqueles arquitetos encontravam na arquitetura clássica um ideal para os novos tempos.

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Mausoléu Neoclássico em Berlim

O neoclassicismo, diferente do renascimento, não ambicionava ser um novo estilo, não propunha linhas muito particulares. A maior diferenciação acontecia pela aplicação das tecnologias vigentes, mas sua base não era a experimentação e sim a cópia os conjuntos clássicos formais. Na arte e arquitetura dos túmulos, no entanto, o que se encontra não são réplicas das lápides gregas, e sim túmulos e mausoléus inspirados nos templos e motivos mitológicos.

Referências Bibliográficas:

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ARGOLO, Paula. Produzindo um contexto familiar: ritos, artefatos e espaços funerários. In: Imagens da família nos contextos funerários: o caso de Atenas no período clássico. Dissertação de mestrado. São Paulo: MAE-USP, 2006, págs. 48-107.

BRACONS, José. Saber ver a arte gótica. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1992.

CALABRIA, C. P.; MARTINS, R. V. Arte, História & Produção, 2: arte ocidental. São Paulo: Ed. FTD, 1997.

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COSTA, Ricardo. A morte e as representações além da Idade Média: Inferno e paraíso na obra Doutrina para crianças (c. 1275) de Ramon Llull, 2009. Disponível em: <http://www.ricardocosta.com/pub/morte.htm&gt;. Acesso em: 19 de novembro de 2014.

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GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1989, p. 65

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KYLE, Donald G. Spetacles of Death in Ancient Rome. New York: Routledge, 1998.

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3 pensamentos sobre “Arquitetura funerária da Grécia Clássica à Revolução Industrial

  1. Por que não se concentraram nos períodos estudados durante o semestre? Ou ao menos dar mais ênfase à estes? Poderiam ter falado dos túmulos etruscos também. O trabalho está bom mas se tivessem se concentrado no conteúdo da disciplina (que já é bem extenso!) poderiam ter aprofundado mais.

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  2. BENJAMIN, Walter. O narrador. (trecho): “No decorrer dos últimos séculos, pode-se observar que a idéia da morte vem perdendo, na consciência coletiva, sua onipresença e sua força de evocação. Esse processo se acelera em suas últimas etapas. Durante o século XIX, a sociedade burguesa produziu, com as instituições higiênicas e sociais, privadas e públicas, um efeito colateral que inconscientemente talvez tivesse sido seu objetivo principal: permitir aos homens evitarem o espetáculo da morte. Morrer era antes um episódio público na vida do indivíduo, e seu caráter era altamente exemplar: recordem-se as imagens da Idade Média, nas quais o leito de morte se transforma num trono em direção ao qual se precipita o povo, através das portas escancaradas. Hoje, a morte é cada vez mais expulsa do universo dos vivos. Antes não havia uma só casa e quase nenhum quarto em que não tivesse morrido alguém. (A Idade Média conhecia a contrapartida espacial daquele sentimento temporal expresso num relógio solar de Ibiza: ultima multis). Hoje, os burgueses vivem em espaços depurados de qualquer morte e, quando chegar sua hora, serão depositados por seus herdeiros em sanatórios e hospitais. Ora, é no momento da morte que o saber e a sabedoria do homem e, sobretudo sua existência vivida – e é dessa substância que são feitas as histórias – assumem pela primeira vez uma forma transmissível. Assim como no interior do agonizante desfilam inúmeras imagens – visões de si mesmo, nas quais ele se havia encontrado sem se dar conta disso -, assim o inesquecível aflora de repente em seus gestos e olhares, conferindo a tudo o que lhe diz respeito aquela autoridade que mesmo um pobre-diabo possui ao morrer, para os vivos em seu redor. Na origem da narrativa está essa autoridade.”

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  3. Adorei a ideia de retratar os estilos funerários de cada época e apresentando suas diferenças e claro, semelhanças e como estas estão presentes até os dias de hoje. Estão de parabéns girls!

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